Virgínia descreve como a vida era difícil naquela época, mas também cheia de alegria e camaradagem. Ela fala das viagens longas e exaustivas que fazia com a sua família, carregando cestos de bolos, loiça para café e refrescos, tudo à cabeça. As festas populares eram ocasiões importantes para a venda dos bolos, e as viagens a pé eram a única opção de transporte, o que tornava o trabalho ainda mais árduo. Virgínia menciona, com saudade, como essas viagens eram também momentos de diversão, com as pessoas a cantar e a fazer brincadeiras pelo caminho. Como tempo, passaram a recorrer aos carros para se deslocarem o que facilitou muito a venda dos bolos.
Uma lembrança vívida é a primeira vez que viu luz elétrica, durante uma festa em Valongo. Até então, todas as festas eram iluminadas por lanternas e gasómetros.
A tradição dos bolos continuou com Virgínia que assumiu a atividade juntamente com a sua mãe e pai, e depois de se casar e ter filhos, continuou a tradição, ensinando-a à neta, que hoje também os confeciona. Ela destaca que, embora o trabalho fosse fisicamente exaustivo, havia um sentimento de orgulho e realização em manter viva essa tradição.
Ela refere que a atividade se manteve manual, apesar das tentativas de modernização. Segundo Virgínia, a massa dos bolos fica melhor quando preparada à mão, e essa dedicação ao processo artesanal é parte do que torna os bolos especiais.
Virgínia explica que, na sua juventude, os bolos não eram chamados de "Bonecas de Palhais", mas simplesmente de “bolos”, havendo ainda as “Ferraduras”, também denominadas por “bolos”, só que feitos com a forma de ferradura (mas usando a mesma massa). A diferenciação entre as Bonecas de Palhais e outros bolos surgiu mais tarde, há cerca de 20, 30 anos, quando a tradição foi ganhando outra visibilidade, especialmente com o apoio da Câmara da Sertã e porque as famílias mais conhecidas por confecionar estes bolos residiam na freguesia de Palhais.
Virgínia refere que para além de algumas pessoas do cimo da freguesia, e em particular de Cardal Pequeno, onde residia a sua família. Só conheceu mais duas pessoas que confecionavam as Bonecas na mesma época que os seus pais: um senhor da Portela, do concelho da Sertã, e uma senhora de Seada, do concelho de Vila de Rei.
Ela recorda que, durante as vendas, além dos bolos, a sua mãe também vendia café e refrescos, que eram preparados na hora, em festas e mercados. Os refrescos, feitos com casca de limão e caramelo, eram uma grande atração. Recorda que para os preparar tinham de ir buscar a água aos poços, pois ainda não havia água canalizada. Hoje apenas vendem as Bonecas e as Ferraduras.