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Origem e história
As salinas de Rio Maior têm, pelo menos, oito séculos de História e, segundo algumas fontes, foram anteriormente exploradas por romanos e árabes. Como já foi referido, o primeiro documento escrito remonta a 1177, através do qual Pêro Baragão e sua mulher Sancha Soares venderam aos Templários “a quinta parte que tinham do poço e Salinas de Rio Maior, cujo poço partia pelo Este com Albergaria do Rei; pelo Oeste com D. Pardo e com a Ordem do Hospital; pelo Norte com Marinhas da mesma Ordem; e pelo Sul com Marinhas do dito D. Pardo” (Leal, 1878, pp. 198).
No último quartel do séc. XII, já existia uma exploração nas Salinas, embora conste que o poço primitivo estaria situado mais para Norte, no sítio denominado Marinha Velha.
Existem algumas variações na lenda local que é contada acerca da descoberta destas salinas. Alguns locais dizem que uma rapariga que acompanhava a pastagem de umas vacas, para mitigar a sede, tentou beber numa poça de água que aflorava num juncal. O sabor fortemente salgado foi-lhe extremamente desagradável e comentou isso mesmo quando chegou a casa. Foi assim que os seus familiares descobriram a existência de sal naquele terreno.[1] Outra versão da lenda conta que depois da pastagem das vacas, os seus proprietários perceberam que os animais, depois de passarem por zonas mais húmidas, deixavam pegadas que ficavam brancas devido à concentração de sal naquela zona, e daí a descoberta da existência do sal.
Durante muito tempo o sal foi importante no comércio entre os povos como moeda de troca, sendo mesmo utilizado como pagamento de jornas (trabalho do dia), daí a proveniência da palavra salário. Para além de condimento na alimentação, era também utilizado como o principal modo de conservação dos alimentos, através das chamadas salgadeiras.[2] Por todo este valor, o domínio do comércio do sal sempre foi sujeito a um grande controlo político. Acredita-se que o comércio foi o motivo que levou os Templários a comprar parte das salinas de Rio Maior.
A Ordem dos Templários, proprietária de parte do poço e salinas, foi extinta em 1312, tendo todos os seus bens passado para a Coroa, e sendo entregues à Ordem de Cristo, por mandato de Dom Dinis.
A exploração privada das salinas aconteceu até aos anos 70 do séc. XX. Com o envelhecimento de muitos dos salineiros, a carência de mão de obra, e sendo uma atividade pouco lucrativa, as salinas conheceram uma fase de degradação e algum abandono – “As salinas começaram a não ser rentáveis (…) porque os salineiros levavam o sal para as casas [armazéns de sal] e chegava a ficar lá 2, 3 anos (…) e as pessoas começaram a abandonar as salinas.” (José Casimiro, atual presidente da direção da Cooperativa). Assim, em 1979, foi fundada a Cooperativa Agrícola dos Produtores de Sal de Rio Maior, tendo como presidente o Dr. João Afonso Calado de Maia. A cooperativa foi criada com o “(…) objetivo de comercializar o sal dos cooperantes e promover ações de apoio aos mesmos, na transformação de salmoura e seu aproveitamento”.[3]
A partir dessa data, as salinas passaram, maioritariamente, a ser geridas pela cooperativa, integrando atualmente cerca de 80 cooperantes, embora ainda subsistam alguns ‘talhos’ que são geridos de forma privada. A cooperativa, “(…) permitiu a colocação do sal no mercado, devidamente embalado, e parte dele moído, o que se traduziu na valorização e aumento da qualidade do produto e do seu preço”.[4] Foram realizadas algumas obras de melhoria, inovação e expansão nas salinas, nomeadamente através da construção, na zona superior das salinas, de um espaço de armazenamento da água, com concentradores, que permitem o encurtamento do ciclo do sal, melhorando também o ambiente circundante – “(…) Os morros de terra onde crescia vegetação infestante que conspurcava o sal foram substituídos por concentradores da salmoura extraída do poço comum.”[5]
Depois de formada a cooperativa, ainda existiam cerca de 20 salineiros que trabalhavam nas salinas e entregavam o sal à cooperativa. Progressivamente, com o envelhecimento e morte de muitos destes salineiros, a cooperativa começou a ter a necessidade de contratar trabalhadores externos para assegurar o trabalho das salinas, o que constitui uma dificuldade dada a especificidade, dureza e sazonalidade das tarefas. Atualmente, os cooperantes dividem os lucros da venda do sal de acordo com a dimensão (m2) da propriedade de cada um.
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Salinas_da_Fonte_da_Bica. Acesso em 27/09/2019
[2] “Vasilha ou lugar onde se salga peixe, carne, etc.” https://dicionario.priberam.org/salgadeira. Acesso em 11/11/2019.
[3]Cooperativa Agrícola dos Produtores de Sal de Rio Maior, em: http://www.coopsal.com/Portugues/quem_somos.htm. Acesso em 27/09/2019.
[4] Ibidem.
[5] Ibidem.